Sobre este vídeo que você quer que eu veja…

Não, cara, não vou ver este vídeo que você me passou…
Adoro a discussão de ideias. Para mim, ideias foram feitas para serem debatidas, mesmo que as suas coloquem as minhas em xeque.
Mas não vou me submeter a lavagem cerebral massificada que você quer que eu faça!
Acho simplesmente desrespeitoso. Não vou perder meu tempo com uma gravação! Se você quiser me falar o que pensa, e estiver disposto a ouvir o contraditório (ouvir, não apenas esperar sua vez de falar), estou mais que disposto.
Quer discutir uma teoria?  YouTuber não é teórico, no máximo divulgador.
Ah, mas neste vídeo tem uma notícia? Me manda o link para eu ler. Não precisa ser de ninguém da grande mídia, mas ao menos ter a decência de saber redigir um bom texto, em oposição a fazer uma ceninha na frente da câmera.
Não é um YouTuber? É um documentário?! Você deve estar de brincadeira que quer que eu perca 1h30 da minha vida preso em frente à uma tela… Me indique um livro!

Estes dias me chegou em mãos um vídeo em que o cidadão fala mal… de livros!
Ele dizia que os livros são financiados com dinheiro de quem quer que te influenciar e tal, e que era algo ruim (não me recordo exatamente de mais detalhes, porque fiquei tão revoltado que aquele vídeo do Caetano falando “não, não, como você é burro” começou a tocar no background da minha mente, dificultando o entendimento).
Inacreditável, é uma inversão completa de valores. Antigamente o pessoa lançava campanha “sai da frente da Tv e vá ler um livro!”, hoje em dia já estão querendo dizer que livros são uma coisa ruim! O negócio é ficar vendo vídeos no YouTube o dia inteiro?!

Mas vou explicar o porquê do que falo não é só modinha.
Quando estava no início do ensino fundamental, uma professora (na época, a “tia”) me disse algo que nunca vou esquecer. Ela argumentou que quando você lê um texto, consegue digerir adequadamente o conteúdo. Quando vê um vídeo, é tanta coisa acontecendo que acaba que não.

É a linguagem corporal, os efeitos visuais, o tom da voz do emissor… tudo isso te assalta de tal forma que depois de um tempo você perde o filtro. Os intervalos comerciais e os conteúdos da clássica Tv não são espaçados do jeito que são aleatoriamente. Esse tempo entre eles é projetado para que os comerciais entrem quando você já esteja com suas defesas baixas.
Ainda não entendeu?
Imagine o filme Matrix.
As últimas cenas são as mais mirabolantes possíveis.
Agora, imagine se você não tivesse visto o começo do filme, e caísse numa delas logo de cara. Iria achar aquilo tudo pouco factível. Mas como viu o filme inteiro, devido à explicação acha que é bem possível.
Claro, é uma metáfora o que acabei de dizer.

O que importa é seguinte:
Em geral, eu gosto de esforço intelectual
Mas me defender de uma gravação que visa unicamente me converter, não é o tipo de esforço intelectual que eu ache atraente.

Quer fazer eu mudar de ideia, use suas palavras, me recomende um livro que você tenha lido.
Se eu perceber que você também está disposto a mudar de ideia, eu embarco na discussão.

Estou dando muito trabalho?
Você não quer discutir, quer só que eu assista ao seu vídeo de lavagem cerebral?
Passa pra outro.